sexta-feira, 18 de junho de 2010

Será mago?

Imagino eu que no dia de hoje, ao redor do globo, um sem número de blogues deve estar falando sobre José Saramago... Destes, o que mais me deixa curioso é, como não poderia deixar de ser, a pena vadia. Até porque eu nem sou assíduo leitor de blogues e este é mesmo um dos meus favoritos. E lá vou a derivar do assunto principal...

Outro dia uma pessoa muito querida me pediu umas dicas de blues em português, que não fossem (é óbvio) os blues etílicos. Esquivei-me dessa com a desculpa de que blues e português não combinam, salvo momentos bastante pontuais (o Cartão Postal da Rita Lee é meu favorito...). Mas nada de esfarrapada tem essa desculpa, eu acho isso mesmo. A língua, ou, as línguas, têm um ritmo, uma cadência e uma sonoridade própria. Da mesma forma que samba em japonês costuma ser esquisito, blues em português também enrosca. Como também o rock em italiano ou em francês não me desce.

Mas há exceções. Mesmo que não entenda muito bem as palavras, o rap francês do McSolaar é melhor do que qualquer coisa que eu já tenha ouvido na sua língua original, bem como o blues-rock com sotaque flamenco de Jarabe de Palo me soa muito bem, como se estes artistas tivessem descoberto o viés comum entre sua língua falada e uma música que originalmente nasceu em outro ramo linguístico. O mesmo se pode dizer do uruguaio Jorge Drexler, que consegue encaixar perfeitamente o espanhol numa mistura de música (hispano-)latina, brasileira e pop-rock inglês.

Aqui mesmo nos trópicos ensolarados, terra do samba, da bossa-nova, forró, moda de viola e tantas outras diversidades, a musicalidade do rock também se encontrou com a nossa língua de maneira sublime em Raul e seus parceiros, Rita Lee, a turma dos anos 80 e, mais contemporaneamente, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Lenine, Vanessa da Mata, Céu... Bem, a lista parece ser extensa, ainda mais com pitadas de Gil, Caetano e do Clube da Esquina. Mesmo que a poesia rock-brasileira não seja lá a de um Chico Buarque, bem, acho que a proposta nem é essa mesmo, não é?

E onde entra o Saramago? Bem, sinto que eu mesmo me perdi um pouco... Descobri o Saramago lá na primeira metade dos anos 90, um livro (Jangada de Pedra) depois outro, depois outro... Foi overdose! A leitura de Saramago é cheia de ritmo (bem, toda leitura é, não é mesmo? Acabo de ser contrariado aqui do meu lado. Enfim...), mas ele consegue ser frenético no encadeamento de ideias e ao mesmo tempo suave na sua forma de manifestá-las. Muito difícil captar esse seu ritmo, mas muito fácil acompanhá-lo, Saramago é um músico que torna seu leitor bailarino inconsciente.

Ave José.

[M]

Um comentário:

  1. Saramago tinha um humor adequado à sua amargura e desencanto. Chorava de rir lendo os livros dele. Este último "Caim" é hilário nas sua referências a Deus. O pai de Carla tb se dizia ateu e que nada ahvia depois. Fico imaginando se eles estavam errados...(ZEBA)

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