quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Porque os Beatles acabaram?

É o que se propõe a responder a revista Rolling Stone deste mês de setembro. Quase 40 anos depois, a mais famosa revista do mundo pop desenterra este assunto e na exumação do cadáver não parece encontrar nenhum indício de causa mortis que já não tenha ficado evidente na autópsia.

O desfile de argumentos leva diretamente à mesma conclusão de sempre: pressões internas fizeram com que o grupo implodisse. Além da guerra de vaidades entre (principalmente) Paul e John, do desconforto de George com sua posição secundária, da presença irritante do quinto beatle Yoko a única novidade que aparece na matéria da RS é a crise financeira da Apple, cujo estopim parece ser a contratação não-unânime do empresário Alan Klein para gerenciar a marca Beatles. Novidade pra mim, que fique isso bem claro, uma vez que nunca fui ligado neste assunto, $$, em se tratando da banda preferida de 11 entre 10 rocknautas, incluso aí, este que aqui escreve. Mas mesmo esse aspecto está diretamente ligado ao buraco que cada vez mais se alargava entre John e Paul.

O fato é que, em nenhum momento a RS toca num assunto que pra mim parece fundamental na dissolução dos Beatles: esta dis-solução era a única solução para torná-los o que são hoje, IMORTAIS, sem o perdão do trocadilho, tava eu aqui escrevendo e de repente, pimba!, descobri um significado para a palavra dissolução, olha o bem que está me fazendo ler a pena vadia.

Coincidentemente, à época que os Beatles faziam seus melhores trabalhos, Rubber Soul, Revolver, Sgt. Pepper´s, os singles de Magical Mystery Tour e o Álbum Branco, o que cronologicamente se situa entre 1966 e 1968, o universo do rock’n’roll passava por profundas transformações. Clapton estava (já nesta época, ainda em início de carreira!) se reinventado com o Cream, Hendrix surgia como uma assombração, Dylan plugava sua guitarra, os Byrds e o Stones punham as manguinhas de fora e achavam seus caminhos com um trabalho próprio e original que ia muito além de uma cópia ou uma versão das músicas dos Beatles. E muitas novas bandas e guitarristas, com idéias arejadas e músicos talentosos ainda estavam por surgir.

Sim, eles catalisaram estas transformações, não se tem dúvidas, mas como numa corrida de revezamento, o bastão foi passado adiante. Continuassem juntos até hoje (ou até quase hoje), os Beatles provavelmente haveriam de se tornar caricaturas de si mesmo, como Elvis, os Stones ou Michael Jackson (que nem era caricatura de si mesmo e sim caricatura de Liz Taylor). Graças a deus, ou à “deusa” (Yoko) ou ao “diabo” (Alan Klein), os Beatles terminaram.

Eu imagino que, circulando pelos botecos da swinging London em 66-67, quando George e John (principalmente) assistiram Jimi tocar pela primeira vez eles devem ter (no mínimo) pensado: “puta que o pariu, esse negócio de rock, de guitarra, tá ficando muito complicado...”, ou “nós criamos um monstro!”. E esse monstro desgovernado crescia e estava prestes a engolir os quatro de Liverpool. Ainda que inconscientemente, eles sentiram o baque. Paul começou a reclamar que a bateria de Ringo era muito monótona (sim, no final dos 60’s já se conheciam bateristas como Ginger Baker, Mitch Mitchell, até mesmo Keith Moon, que era amigão do Ringo, e que tinham baquetadas mais agressivas e impressionantes que as dele; e não interessa se Ringo sempre foi o único baterista que poderia ter tocado nos Beatles, opinião minha) e que os solos de George eram pouco inventivos. John reclamava que as letras e músicas de Paul estavam ficando muito idiotas (Obladi-oblada, life goes on bra!, convenhamos, John Lennon poderia ser um mala sem alça, mas aqui ele está coberto de razão) e talvez ninguém tivesse coragem de dizer abertamente isso a ele mas, John não era nem um poeta do nível de Bob Dylan, nem cantava como Otis Redding ou mesmo Elvis, tampouco era um guitarrista virtuoso como os que às pencas surgiam, E.C., Jeff Beck, Hendrix... pra ficar só em 3.

(E esse post vai se alongando, peço desculpas, sei que o espaço blogue é melhor com textos rápidos, curtos e fluentes, mas a tônica do barailaque corre o risco de ser esta, meio ciclo hidrológico, ao período de estiagem seguem-se chuvas torrenciais, os rios transbordam, enfim, caos total. Mas hoje é quinta e logo-logo você tem o final-de-semana pra ler).

Finados os Beatles, John e George viraram artistas sazonais. George ainda conseguiu fazer uns três discos memoráveis (um deles, triplo, o que poderia elevar a contagem para cinco...), John nem isso. Paul sempre foi o mais prolífico. Musicalmente, tinha mais ficha pra gastar que os outros dois, ainda que aos poucos ele foi se distanciando daquilo que ajudou a criar, o rock que os Beatles (re)inventaram. Nem é preciso dizer que John, Paul, George (e Ringo!), sozinhos eram só isso mesmo: John, Paul, George e Ringo. E com isso eles salvaram os Beatles. Os Beatles não poderiam envelhecer, e foi isso o que os tornou imortais.

ps: o cartum do angeli é cortesia, por uma coincidência monstra (ou não?), do Jorjão.

[M]

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Este cinquentão...



O tal de roquenrou já foi jovem, descabelado e rebelde. Hoje já tem quase status de jazz. Tem o viés punk, o dançante, o progressivo, o psicodélico, o latino e aindas uns tantos meio indecifráveis... Mas continua sendo "só" roquenrou.

Mas eu gosto.

Já não sei se por gosto mesmo, por puro gosto, ou por vício. E também já não me interesso em descobrí-lo (r-me?). O seu melhor não é ser decifrado, compreendido, decodificado, esquartejado... O seu melhor é o impacto físico que causa no corpo, a porrada, o volume.

Volume que é uma medida de ocupação de espaço. E que foi tão bem traduzida (porque traduzir é trair, já diria o PQ) como medida da intensidade sonora... Afinal essa intensidade sonora ocupa espaço físico e te toca, arranha, acaricia, esmurra... E a este volume talvez possa-se até mesmo aplicar a segunda lei da termodinâmica, que relaciona volume, temperatura e pressão.

Só não digo que este ou aquele é o objetivo deste blogue. Este blogue talvez tenha no máximo um norte, ou uma sensação que é a de se distanciar de objetivos, seja lá quais forem. Aqui, tudo é subjetivo, e vai como a nau perdida, sem remo nem vela, conforme rolem as ondas que a fazem balançar.

Bem vindos.