terça-feira, 13 de julho de 2010

A cozinha de barailaique

Eu pensei em fazer uma graça, intitulando o post como "a cozinha refinada de barailaique", mas caí na real. Até porque, a boa cozinha nem precisa ser refinada, vamos e venhamos.

E a cozinha do rock'n'roll estará, em geral, longe disso. Não, não pretendo fazer um post sobre receitas e dicas culinárias, nem mesmo nomes de restaurantes ou bares que servem sanduíches com nome de gente famosa.

Cozinha = baixo + bateria, ok? É disso que se trata, e eu espero estar fazendo uma das minhas últimas listas. No princípio, lá nos anos 50, o que interessava era a música. Os anos 60 viram surgir a (eterna) era da guitarra e aos, poucos, os virtuoses de outros instrumentos, baixo e bateria, começaram a se tornar obrigatórios. A partir da seunda metade dos sixties tornou-se praticamente regra incluir um solinho (nem sempre "inho") de bateria nos discos...

1. Até mesmo Ringo Starr gravou um solo de bateria em Abbey Road. Bem, era Ringo Starr... Mas este dispensável (apesar de divertido, quase paródico) momento não é o que o traz aqui. A cozinha dos Beatles era simplesmente fantástica! Muito se deve ao baixista técnico, melódico e criativo: o velho Macca começou como guitarrista antes deles decidirem mandar Stuart Sutcliffe embora, e era ainda por cima, compositor de mão cheia. McCartney nunca se limitou a uma abordagem rítmica do seu baixo, frequentemente ele agregava linhas melódicas surpreendentes, enquanto que Ringo, bem, Ringo era o cara que não deixava a peteca cair enquanto os outros estvam pirando. Seus grandes momentos como baterista estão no descendo a lenha de Tomorrow Nevers Knows e num espetáculo de sensibilidade e adapatação que é a bateria de A Day in the Life.

2. Charlie Watts e seu kit mínimo de tambores dificilmente é ídolo de algum baterista. Mas ninguém mais poderia ser o baterista dos Stones, só mesmo Charlie. Ele é o cara que gosta de levar seu som a partir de uma abordagem mínima, sem vale-tudo, agregando-se à música sem desfigurá-la. Honky Tonk Women é o exemplo da levada ideal de Charlie. Os Stones soariam ridículos com um baterista tipo Ian Paice. Seu colega de cozinha chama a atenção pela total discrição. Bill Wyman era o cara que poderia nem ter estado ali, e talvez ninguém sentisse a falta do seu baixo.

3. Dentre as cozinhas pioneiras da british invasion dos anos sessenta talvez a melhor, ou pelo menos, a mais violenta seja fornecida por Keith Moon e John Entwistle, batera e baixo do The Who. Keith foi o primeiro animal da bateria, provavelmente a maior inspiração para o personagem dos Muppet's... John tinha uma postura discreta no palco, mas era extremamente técnico e sabia fazer o contraponto ou acompanhamento da agressividade de seu colega de cozinha (no clássico My Generation, John dá um show!).

4. Claro: Jack Bruce e Ginger Baker. A cozinha do primeiro supergrupo de rock. O primeiro e o melhor de todos. Não é o caso de dizer "ah, mas eles tinham Clapton!". A excelente música do Cream dependia tanto do deus da guitarra, quanto da cozinha onde ele(s) preparava(m) suas poções. Lembremos: E.C. é, acima de tudo, um intérprete. Um magnífico intérprete que costuma fazer ques seus "comentários musicais" soem como composição. Mas, numa banda de três, um power trio (e Cream era O power trio) pouco adiantaria ter apenas um guitarrista lendário (a não ser que ele fosse Hendrix, hum.. capítulo dois). Aí vem a coisa da adequação né? O que valia para Ringo e Charlie vale aqui também, às avessas. Esta cozinha faz parte da lenda chamada Cream, qualquer outra aqui, provavelmente não teria criado a míriade de canções maravilhosas desta magnífica banda.

5. Sim, o Led Zeppelin sempre foi a banda de Jimmy Page, com algum espaço esporádico de destaque para os vocais de Plant. Uma vez li por aí (maldita web) que John Paul Jones havia sido questionado a respeito de um de seus discos solo se ele não achava que o som era "too much Led Zepp influenced". A resposta? "Don't you think Led Zepp's sound is too much John Paul Jones influenced?". Este cara era um músico de estúdio dos mais requisitados na swinging London dos sixties (por exemplo, ele arranjou e tocou aquelas partes de piano na psicostônica She's a Rainbow). Tecladista, foi chamado para assumir o baixo na nova banda que surgia e que ajudaria a tornar lenda ao lado do gigante baterista John Bonham. Olha, este cara era agressivo, e deve ser creditado a ele uns 58% da culpa pela invenção do heavy metal (bem, ele não sabia no que ia dar, não é?), mas Bonzo não era só isso. O Led gravou muita coisa de diferentes estilos e andamentos, e ele sempre teve muito suingue quando foi necessário. Testemunha quem ouvir o mais louco disco deles, Houses of the Holy.

6. Não posso deixar de citar a cozinha clássica do Yes: Chris Squire e Bill Bruford. Chris foi o primeiro cara que, bem, foi mais ou menos assim, eu escutava algum clássico do Yes e percebi "ei! tem alguém tocando uma outra coisa aqui!", e era o seu baixo. Bruford era baterista com cabeça (e mãos) de percussionista, sua abordagem não se limitava ao ritmo, chegava quase a ser melódico, preenchia espaços e os deixava livres na medida certa. Depois saiu do Yes para se aventurar na estranhíssima música do King Crimson e foi o cara que teve mais paciência para aturar Robert Fripp. Também tem trabalho solo, que eu, sinceramente, desconheço.

7. Destas bandas clássicas gosto também da cozinha do Queen (pronto, consegui citar a banda inteira), principalmente o batera Roger Taylor, que tem o estilo agressivo herdado de Bonham e Moon... O baixista John Deacon era um compositor esporádico (mas de tiro certeiro) e seu som começou a aparecer mais quando a banda incorporou influências mais pro lado do funk.

8. Uma cozinha, completamente diferente (do ponto de vista musical) mas clássica do ponto de vista social é a dos Wailers. Essa é a cozinha da Ruberley Boareto da Silva, no. 376, por onde a gente entrava na casa e acabava ficando por ali mesmo... A porta de entrada do reggae é mesmo a cozinha que funciona não só como ritmo, mas muitas vezes melodicamente. As linhas de baixo de Aston Familyman Barret não se limitam a repetir as linhas da guitarra em tom mais grave (até porque a guitarra do reggae é, basicamente, acordes tchaca-tchaca) e o acompanhamento da bateria de seu irmão, Calrton Barret, completam a fina mistura que sustenta a maravilhosa música de Bob Marley.

9. Com a chegada do punk, ser músico virtouso deixou de ser moda (aliás, ser músico de qualquer forma...). Mas uma banda que nasceu nesta época e quase fingiu ser punk (e que caiu fora quando viu que era roubada) e acabou inaugurando a new wave tem a melhor cozinha dos anos 80, e foi muito importante para o nosso roque-brasil aqui. Falo de Sting (aquele mesmo) e Stewart Copeland, baixo e batera do Police. O nome não ajuda mas os caras eram bons demais... Nesta banda, eles tinham até uma estrutura que lembrava o reggae, na medida em que as canções eram levadas principalmente pela seção rítmica, com menor ênfase na guitarra (também de primeira linha, diga-se de passagem, já me desculpo aqui por não ter citado Andy Summers no post sobre guitaristas) do que seria num power trio. O The Police era um Rhythm Trio, se é que isso faz algum sentido.

10. Então nós caímos direto em João Barone e Bi Ribeiro dos Paralamas porque a infuência daquela banda (Police) nessa é tão explícita (nos primeiros discos) que não precisaria nem ser comentada... Não há muito o que comentar aqui, é quase a mesma trajetória que a da banda inglesa, com a diferença de que a longevidade dos Paralamas os levou (também) a outros horizontes...

11. Das coisas mais atuais, olha, sinceramente, em tempos de mp4, download grátis, é muita informação!... É tanta que não dá tempo nem de processar direito, então tem muita coisa por aí, que a gente (leia-se: eu) não consegue passar muito da superfície. Dá pra surfar em muita coisa, mas mergulhar é cada vez mais difícil... Lembro de algumas coisas: gosto do Flea, baixista dos Red Hot Chilli Peppers, o som desta banda (que acho demais...) depende muito dele. O batera dos Black Crowes, Steve Gorman, tem um suingue fantástico e sustenta discretamente o som da banda. O mesmo pode ser dito a respeito de Glenn Kotche, baterista do Wilco. Nessa linha, lembro também da seção rítmica do ACDC (que não deve ser encarada aqui como parte da seção "atualidades"), que levada os caras tem! Quer dizer, não é nada demais, mas o som da banda está alicerçada naquela batida roquenrou incansável de bateria...

12. Sim, eu não comentei muitos nomes clássicos... Ian Paice do Deep Purple é o tipo do cara que agrega informação demais ao som da banda. Mas aqui funciona bem. Neil Peart, já me disseram, é o maior baterista de rock de todos os tempos. Fazer o que, se eu não sou muito fã de Rush? Sim, Nick Mason do Pink Floyd tem um som bem legal e gosto também da cozinha caipira e diversificada de The Band, o baixista Rick Danko e o baterista Levon Helm (além do que eram ótimos cantores).

13. Na música brasileira, a coisa é diferente. Talvez a tradição rítmica do samba, ou a harmônica da bossa-nova, sei lá, faz com que esses elementos não tenham a mesma dimensão. O que não quer dizer, de modo algum, que os músicos que executam estes instrumentos sejam, menores, pelo contrário! Eu quero dizer: a boa (excelente) cozinha brasileira é a regra! Bem, em termos de rock nacional temos Liminha e Dinho (baixo e bateria dos Mutantes). Dos oitenta, já citei e não preciso repetir: os cozinhas do Sucesso... Na virada pros anos noventa aconteceu uma coisa legal: as bandas começaram a incorporar percussionistas. O Barão Vermelho, das clássicas, foi a primeira o que culminou no excelente disco de '88, Carnaval. Também na banda de Cássia Eller, com Lanlan e Thamyma Brasil, duas percussionistas que não deixavam a peteca cair... E finalmente a cozinha a lenha da Nação Zumbi, que no primeiro disco usou só os tambores de Maracatu mas que a partir do segundo conseguiu agregar de maneira sensacional uma clássica bateria em sua massa sonora...

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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Estrada do Sol (parte II)

Sim! chegamos a nossa querida e ensolarada terra-mãe...

A música brasileira tem uma tradição vocal (e poética) muito superior à do rock'n'roll. Não vou percorrê-la, seria pobre perto do seu tamanho e sairia muito do foco original do post (algo que já me aconteceu na parte I...). Começo pela geração da Tropicália. Como cantores (e músicos e poetas...) ninguém foi tão longe.

22. Gilberto Gil e Caetano Veloso. Claro, ficaram velhos e chatos. Um virou ministro, administrador de ONG, vereador... Outro parece transformar sua música em artigo científico... Uma pena, mas esses caras mandaram pelos menos uns 20 anos de excelente música. A melhor que havia por aqui, e ainda por cima sempre foram intérpretes extremamente sensíveis e cuidadosos.

23. Daí vem o melhor de todos, Milton Nascimento. Voz de veludo, licorosa e suave, sem deixar de ter um alcance que permite intepretações surpreendentes, tanto de sua mineira música (que é mais assim... mineira uai, sacumé?) quanto de um repertório mais amplo.

24. Djavan também tem uma voz muito gostosa e forte. Muito me lembra, na entrega aos temas que canta, o jamaicano Bob. Esta geração dos '70 traz ainda o cearense Fagner com um timbre único (mas de um repertório mais pobre) o paraibano Zé Ramalho e o pernambuco-malandro de Alceu Valença (cujas interpretações beiram o clown, por exemplo em Anjo Avesso, disco de 1982).

25. Tim Maia, é claro. Outro cara único, trouxe e adaptou a soul music americana ao nosso tempero e temperatura, o síndico cantava como ninguém (às vezes, literalmente, dado o desaparecimento frequente em shows) e tinha uma puta voz bonita. Gente defende que Wilson Simonal era melhor cantor, o problema é o repertório, enquanto Simonal parecia estar na era das Cantoras do Rádio (na maioria das vezes), Tim Maia já estava no futuro. Ainda assim, fugindo das obviedades que acompanharam a sua redescoberta no ano passado, a música Colecionador de Amigos, (que chegou aos meus ouvidos como um) presente de um Itabunense exilado em Londres, é sensacional...

26. Sim, o chato do sobrinho... Como negar que Ed Motta tem (provavelmente) a melhor voz do Brasil? Se ele tivesse morrido tragicamente após lançar o primeiro disco com Manuel e Vamos Dançar, estaríamos eternamente lamentando as coisas maravilhosa que ele não teria cantado. Graças a deus, ele sobreviveu mas o preço a pagar foi caro demais: Ed Motta é disparado o cantor mais chato do Brasil. Na van do barailaique não tem espaço pra ele... Outra que não caber nessa lotação é a cantora da moda, Ana Carolina, cheia de gingas, trejeitos e maneirismos vocais, acho chatíssima, peca pelo excesso, além do que seu repertório beira o intragável.

26. Do rock rock tupiniquim mesmo, acho que são poucos os destaques... Raul Seixas pela malandragem, bom humor e domínio total dos seus ritmos, sua voz fazia quase parte da percussão! A Rita Lee de depois da maternidade, no começo da era Roberto de Carvalho, passou a cantar com calma e malícia, dosando o ritmo, comprovadamente em Mania de Você, Lança Perfume e Baila Comigo.

27. A nossa geração do rock dos anos 80 infelizmente não tem uma safra de cantores tão boa. Ainda que alguns mitos como Cazuza e Renato Russo tenham surgido justamente nesta época, não é disso que estou falando. Frejat quando assumiu os vocais do Barão mostrou que tinha mais voz que Cazuza, pena que nunca soube direito o que fazer com ela. No mar de vocalistas que eram os titãs minhas vozes preferidas eram as de Sérgio Britto e Paulo Miklos. Arnaldo Antunes com seu timbre grave também se destaca, principalmente por seu trabalho pós-titãs, notadamente quando canta "música para criança" onde suas melodias vocais são mínimas, é quase que uma leitura, mas o resultado é quase sempre surpreendente.

28. Nando Reis mereceria a citação, não fosse seu timbre um tanto sofrível (apesar de muita sensibilidade na interpetação) mas, principalmente, porque Cássia Eller deu voz (e que voz...) às suas canções como se fossem dela. O disco Com Você meu Mundo Ficaria Completo certamente representa (junto com os de CSNZ) o melhor do pop-rock nacional dos anos 90. Aqui ela está de alto astral e muito bom-humor, ajudada pela produção impecável de Luiz Brasil. Até o som da banda acompanha esta sua nova fase (nos seus discos anteriores a impressão é a de que o som da banda não combina com sua voz).

Meio que sem-querer pulamos para as cantoras. Na verdade, sempre achei que cantar exige uma certa sensibilidade feminina... Como a mãe que nina seu bebê, a voz feminina traz outra cor à música.

29. Nossa música é riquíssima em cantoras, começando com a eterna e inigualável Elis Regina, passando pela linda e estranha voz de Bethania e até mesmo Gal Costa, apesar de eu não apreciar muito a gritaria que foi aos poucos se tornando seu trabalho pós Gal Tropical. Gosto também da baiana bossa nova Rosa Passos, outra que canta ninando (ainda que a nova não seja minha bossa) e da baiana Margareth Menezes que, infelizmente, não entra de vez no Axé Music e nem sai dela pra sempre. Mas é uma voz rara.

30. Uma nova de geração de cantoras maravilhosas temos hoje, o que há de melhor na música brasileira. Céu e Vanessa da Mata são minhas favoritas, não só pela voz, mas pela música que fazem, diferente e cheia de personalidade. Qualquer disco delas é um convite à boa música. Menos compositora que estas duas e de um estilo mais recatado, Fernanda Takai é a cantora dos meus sonhos, aquela que eu queria pra mim. Sua voz é um mantra apaziguador, e o disco em homenagem à Nara Leão é uma sessão de yoga.

31. Infelizmente, não temos uma nova geração de cantores tão boa. Talvez a melhor voz seja a do maranhense Zeca Baleiro, de timbre encorpado. Samuel Rosa tem a voz ideal para o pop, reta e sem firulas. Gosto também dos pernambucanos Chico Science, com seu estilo vocal de gibi e Lenine, um tanto pretensioso na poética (como Zeca) mas intérprete convincente e certeiro. Lirinha (Cordel do Fogo Encantado) parece se alimentar de sua própria música e Siba (Mestre Ambrósio) também tem uma voz singular, completam o time que vem da terrinha...

Um monte de voz. Música cantada, reinvenção de sua função primitiva. Conteúdo, comunicação. Forma, expressão.

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Estrada do Sol (parte I)

O plano era começar a falar sobre as vozes brasileiras mas, a lista de esquecidos ficou grande demais e preciso continuar com eles...

18. A Andréa pede que eu cite Chris Robinson, dos Black Crowes. O texto poderia até ser análogo àquele sobre Jeff Tweedy e a música do Wilco uma vez que a voz de Chris e a música do Corvos são absolutamente indissociáveis (ainda que eu ache que sua voz tem uma tendência a ficar ardida demais às vezes, com se tivesse um drive ligado na garganta).

19. O camaleão David Bowie também foi injustamente esquecido. E o gancho nos leva a Lou Reed (que estava longe de ser um grande cantor) e a Iggy Pop (que se eu não cito capaz de perder um grande parcela de meus seguidores). Este último não me agrada no seu período inicial, cru e gritado, mas sua voz madura como no magnífico dueto com Katie Pearson (B52's) em Candy.

20. E o que dizer dos pioneiros esquecidos do Blues? De novo, Muddy Waters e John Lee Hooker são vozes obriagatórias. Graves, malandras e cheias da alma do blues, bem como Howlin' Wolf, que era "só" cantor. No outro extremo do espectro vocal tem os cantores de soul, grupos negros vocais de voz mais fininha... Conheço pouco, e gosto bastante de Smokey Robinson (além do que, ótimo compositor). No meio do caminho, James Brown!, como fui me esquecer dele? Lembrei também dos irmãos australianos Bee Gees, isso marcou época não? Stayin' Alive é hit obrigatório de qualquer banda de casamento/formatura que se preze. Difícil é alcançar aquele agudo...

21. Dois nomes menos conhecidos são Jeff Buckley e Elliott Smith. Ambos faleceram tragicamente deixando uma discografia muito pequena. O primeiro tem em Grace sua obra-prima, cantor de recursos vocais extraordinários e timbres únicos. O segundo tem um som e uma voz mais comedidos (se comparados com o anterior), do tipo mineirinho come quieto, mas que fica nervos e vez em quando. Recomendo Xo e From a Basement on a Hill.

Sim, e acho que não vou ficar vasculhando mais a memória... Se alguém me aparece desavisadamente, vai pros comentários... No meio do caminho, entre o pop-rock internacional e o tupiniquim, lembro-me de dois nomes cucarachas (ou quase):

22. Pau Donés guitarrista e vocalista do espanhol Jarabe de Palo e o uruguaio Jorge Drexler são minhas vozes preferidas em espanhol (incluiria aqui outro espanhol, Camarón de la Isla, mas isso já foge bastante do foco original), principalmente o segundo. Os africanos Salif Keita (Mali), Baba Maal e Youssou N'Dour (ambos do Senegal, princialmente os senegaleses, trazem uma rica e agradável mistura de ritmos e melodias locais com o universo pop global. E são cantores de primeira. Menos global, mas ainda melhor do ponto de vista da voz é a cabo-verdeana Cesária Évora, que foi mania por aqui há uns anos atrás, quando foi "descoberta" por Caetano Veloso. Bom, já que abri o leque, que tal a impressionante voz de Ibrahim Ferrér, de Buena Vista Social Club? Melhor parar por aqui, ou o post não termina nunca...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Continuando a estrada da voz...

7. Parei na princesa (ou rainha), agora entra o ogro: Ozzy Osbourne. É a síntese do vocal de heavy metal. Um contraponto agudo a massa sonora de registro extremamente grave do Black Sabbath. E o mais importante: parece que jamais se levou totalmente à sério.

8. Johnny Cash é uma voz impressionante. Transitando entre o folk e o country é impossível não se render às suas interpretações, mesmo que não goste do estilo. Seus últimos registros são fantásticos, ele refaz Rusty Cage e Personal Jesus (pra ficar só em dois exemplos) como se fossem suas.

9. Bob Marley provavelmente é o mais apaixonado cantor que eu já ouvi. Apaixonado pela sua música, pelas verdades que ele vive ali. Qualquer música na voz de Bob é um depoimento sincero e comovente.

10. Kelly Jones, guitarrista da banda galesa Stereophonics tem um registro impressionantemente rouco. Lembra o Rod Stewart dos Faces. Mas Kelly é mais malandro e cheio de bossa, beira o exagero às vezes. Interpretando Don't Let me Down, dos Beatles ele consegue ser ainda mais convincente que o próprio Lennon. Sublime.

11. Mas, nenhuma voz dessa nova geração roqueira é tão impressionantemente boa quanto a de Caleb Followill, do Kings of Leon. Além de um timbre único, uma voz muito bonita mesmo, ele acelera e "tira o pé" na hora certa. Claro que sua banda é muito boa, mas muitas de suas melhores canções são levadas, até mesmo ritmicamente, pela voz impressionante de Caleb.

12. Não poderia deixar de falar de quem não vou falar: Elvis. Acho chato, típico herói americano. Claro que é talentoso e tinha uma voz incrível. Mas quando penso no rei do rock, lembro daquela jaqueta branca cravejada de brilhantes ou aquelas rídiculas películas que assolavam Sessão da Tarde na década de 70. Além do que, suas boas músicas não lotam um fusca. Junte-se aqui outro herói americano, morto recentemente, que não merece sequer a não-citação e também o vox de uma banda irlandesa que tem o som maneiríssimo, mas que esse sujeito enjoado consegue estragar.

13. Meu gosto pela voz de Jeff Tweedy deve se confundir com o tanto que eu gosto da música do Wilco. De qualquer forma, duvido que sem ele o som da banda seria o mesmo (até porque ele é meio que o dono da banda...)

14. Eric Burdon dos Animals é meu vocalista preferido das bandas dos sixties. Linda voz, cheia de energia. Também merecem registro Roger Daltrey do The Who e, claro, o eterno Jim Morrison.

15. As harmonias vocais mais belas do rock devem-se à Crosby, Stills e Nash (e Young). É claro, não há aqui ineditismo, grupos vocais eram frequentes entre a música negra (Temptations, Supremes) e mesmo os Beach Boys já faziam isso desde o início da sua carreira e o Queen levaria esta idéia a extremos (então) inimagináveis. O álbum homônimo é fantástico e trilha obrigatória de Woodstock. A melhor descrição de sua música vem de Wooden Ships: Wooden ships on the water, very free... Easy, the way it's suposed to be...

16. Sim, existe uma penca de vocalistas negros de soul, gospel etc e tal que colocariam (pelo menos) metade desta lista de joelhos... Conheço pouco a paragem. Gosto muito de Otis Redding e Marvin Gaye, são dois registros e idéias de cantar muito distintos e, coincidentemente tiveram fim tragico (principalmente Marvin Gaye, assasinado pelo próprio pai). O pouco conhecido Baby Huey morreu antes de completar seu único disco, mas deve ser reconhecido como uma voz potente e brilhante. O lindo disco gospel de Ben Harper com os Blind Boys of Alabama também está na categoria de música vocal da mais alta qualidade. Stevie Wonder adoro ouvir também sua voz, além de sua música excepcional, e o falecido Billy Preston tem uma participação magnífica no Concert for George. Claro, isso tudo sem falar no maior de todos, Ray Charles, que é sinônimo de música, em todos os sentidos.

17. A presença da voz humana na música pop abre as portas para a presença feminina no rock, que sempre foi clube do bolinha. Janis Joplin é referência óbvia, obrigatória e, mais do que justa. Nenhum vocalista homem de rock jamais chegou a seus pés. Jóia, mais que rara, única. Mas a minha favorita mesmo é Aretha Franklin. Onde é normal escutar uma pá de vocalistas que cantam gritando, Aretha grita (quando necessário) cantando. Da nova geração, gosto de Norah Jones, mas Amy Winehouse é simplesmente imbatível. Impossível não se render à sua música, e como se não bastasse, seu comportamento já é a de um mito pop, com vida pessoal atribulada regada a casos amorosos indizíveis e todo o tipo de drogas.

[CONTINUA AINDA, COM A VOZES DO BRASIL]

terça-feira, 6 de julho de 2010

Seguindo a estrada...

E seguindo a lista de guitarristas, a outra ponta fundamental do rock'n'roll e da música pop: a voz. Claro que sem letra, o rock é quase nada. Seria quase um jazz de baixa qualidade. Mas a letra, a canção elevam o rock à posição de mãe de todas as artes pops do século passado. Este curioso caminho leva ao rap, quase uma ruptura entre música e letra, processo que destila a canção em duas partes quase desiguais.

Mas o assunto não é esse. E sim, mais uma lista. Quais os cantores favoritos deste blogue? A lista segue os padrões das anteriores: nenhum critério objetivo, apenas gosto. E continuo sem ordem de preferência...

1. Começo com Mick Jagger. Tento redimí-lo de sua azarada aprição na copa do mundo de 2010. Ele certamente conseguiu um eterno "passe proibido - persona non grata" em qualquer estádio de futebol. E começo justamente por aquele que deve ser o cantor mais fraco (do ponto de vista da técnica vocal) desta lista. E é aí que esta, de novo, o segredo da maior banda de rock de todos os tempos, este encontro de músicos limitados que o tem em plena consciência, com disposição, bom gosto e sensibilidade para fazer a melhor música possível, esticando a fronteira destes limites ao máximo. Além do que, este é o cara que transforma um show ao vivo em espetáculo inesquecível. Ele catalisa, como uma faísca, o processo que é inerente à música dos stones. Os stones são energia potencial enquanto que Mick é cinética. Seu grande momento (além dos anos clássicos da transição de Brian Jones para Mick Taylor) é o álbum Black and Blue, de 1976.

2. Neil Young. Ele é rústico, cru e tem um timbre único. Transita do folk ao grunge sem meios termos e com a maior naturalidade. Como compositor é brilhante, tem a mais honesta coleção de músicas desde que o rock foi inventado. E como se não bastasse, este cara interpreta suas próprias músicas como se não fosse ele mesmo quem as escreveu. No clássico ao vivo de CSNY, Four Way Street, ele executa um set acústico (e sozinho com seu violão) de músicas originalmente elétricas, Don't Let it Bring You Down, Cowgirl in the Sand e Down by the River. De arrepiar.

3. Van Morrison. Aqui está a primeira grande voz da lista. O bardo irlandês não economiza talento quando tem de cantar. E apesar da grande potencialidade vocal, sobra enorme margem para uma sensibilidade incomum. Seja em suas próprias canções (ouça-o por exemplo cantando Caravan no show de despedida de The Band...) ou em interpretações de soul, como no ao vivo It's too Late to Stop Now, Van é o cara.

4. Eddie Vedder. O melhor de sua geração. Por incrível que pareça no aclamado álbum de estréia do Pearl Jam, Eddie ainda não tinha encaixado sua voz... Este processo aconteceu ao longo dos discos sequentes, e culmina em Riot Act, considerado um trabalho menor na discografia da banda, onde o vocalista pode mostrar sua incrível sensibilidade para cantar baladas e músicas com andamento mais lento e menos agressivo. Afinadíssimo e dono de belíssimo timbre, Vedder fez desmanchar a pedreira Paulo Leminski cantando The Last Kiss só com sua guitarra enquanto resto da banda tomava um refresco. Seu grande momento entretanto me parece a trilha sonora de Na Natureza Selvagem (Into the Wild).

5. Paul McCartney era a voz mais bonita do Beatles, além de ser o cara que melhor transitava entre diferentes estilos e temperamentos. No álbum branco de 68 ele canta rock'n'roll (Back in the USSR), baladas folk (Blackbird ou Rocky Raccoon), primórdios do Heavy Metal (Helter Skelter), jazz (Honey Pie) e outros com a maior naturalidade. Sou fã.

6. Freddie Mercury. Meu cantor favorito, leva ao extremo o talento de Paul para variar entre estilos, o de Mick como catalisador, e o de Van Morrison como voz. Intérprete de suas prórpias composições ou de outros membros da banda como Brian May e John Deacon, Freddie sempre se lançou inteiro, de corpo e alma nas canções. Em Bohemian Rhapsody, você realmente acredita que ele matou um cara, enquanto que Somebody to Love é uma verdadeira autobiografia. A diversidade de seu talento como cantor fica evidente principalmente em News of the World (de '77), onde além de clássicos do Queen, cito duas canções menos conhecidas, Who Needs You (de Deacon) e Melancholy Blues (dele mesmo). Homossexual assumido, morreu de Aids é a antítese do roqueiro típico (junkie, comedor e empunhando uma guitarra), indo muito além do universo rok'n'roll com sua música.

[CONTINUA...]