terça-feira, 6 de julho de 2010

Seguindo a estrada...

E seguindo a lista de guitarristas, a outra ponta fundamental do rock'n'roll e da música pop: a voz. Claro que sem letra, o rock é quase nada. Seria quase um jazz de baixa qualidade. Mas a letra, a canção elevam o rock à posição de mãe de todas as artes pops do século passado. Este curioso caminho leva ao rap, quase uma ruptura entre música e letra, processo que destila a canção em duas partes quase desiguais.

Mas o assunto não é esse. E sim, mais uma lista. Quais os cantores favoritos deste blogue? A lista segue os padrões das anteriores: nenhum critério objetivo, apenas gosto. E continuo sem ordem de preferência...

1. Começo com Mick Jagger. Tento redimí-lo de sua azarada aprição na copa do mundo de 2010. Ele certamente conseguiu um eterno "passe proibido - persona non grata" em qualquer estádio de futebol. E começo justamente por aquele que deve ser o cantor mais fraco (do ponto de vista da técnica vocal) desta lista. E é aí que esta, de novo, o segredo da maior banda de rock de todos os tempos, este encontro de músicos limitados que o tem em plena consciência, com disposição, bom gosto e sensibilidade para fazer a melhor música possível, esticando a fronteira destes limites ao máximo. Além do que, este é o cara que transforma um show ao vivo em espetáculo inesquecível. Ele catalisa, como uma faísca, o processo que é inerente à música dos stones. Os stones são energia potencial enquanto que Mick é cinética. Seu grande momento (além dos anos clássicos da transição de Brian Jones para Mick Taylor) é o álbum Black and Blue, de 1976.

2. Neil Young. Ele é rústico, cru e tem um timbre único. Transita do folk ao grunge sem meios termos e com a maior naturalidade. Como compositor é brilhante, tem a mais honesta coleção de músicas desde que o rock foi inventado. E como se não bastasse, este cara interpreta suas próprias músicas como se não fosse ele mesmo quem as escreveu. No clássico ao vivo de CSNY, Four Way Street, ele executa um set acústico (e sozinho com seu violão) de músicas originalmente elétricas, Don't Let it Bring You Down, Cowgirl in the Sand e Down by the River. De arrepiar.

3. Van Morrison. Aqui está a primeira grande voz da lista. O bardo irlandês não economiza talento quando tem de cantar. E apesar da grande potencialidade vocal, sobra enorme margem para uma sensibilidade incomum. Seja em suas próprias canções (ouça-o por exemplo cantando Caravan no show de despedida de The Band...) ou em interpretações de soul, como no ao vivo It's too Late to Stop Now, Van é o cara.

4. Eddie Vedder. O melhor de sua geração. Por incrível que pareça no aclamado álbum de estréia do Pearl Jam, Eddie ainda não tinha encaixado sua voz... Este processo aconteceu ao longo dos discos sequentes, e culmina em Riot Act, considerado um trabalho menor na discografia da banda, onde o vocalista pode mostrar sua incrível sensibilidade para cantar baladas e músicas com andamento mais lento e menos agressivo. Afinadíssimo e dono de belíssimo timbre, Vedder fez desmanchar a pedreira Paulo Leminski cantando The Last Kiss só com sua guitarra enquanto resto da banda tomava um refresco. Seu grande momento entretanto me parece a trilha sonora de Na Natureza Selvagem (Into the Wild).

5. Paul McCartney era a voz mais bonita do Beatles, além de ser o cara que melhor transitava entre diferentes estilos e temperamentos. No álbum branco de 68 ele canta rock'n'roll (Back in the USSR), baladas folk (Blackbird ou Rocky Raccoon), primórdios do Heavy Metal (Helter Skelter), jazz (Honey Pie) e outros com a maior naturalidade. Sou fã.

6. Freddie Mercury. Meu cantor favorito, leva ao extremo o talento de Paul para variar entre estilos, o de Mick como catalisador, e o de Van Morrison como voz. Intérprete de suas prórpias composições ou de outros membros da banda como Brian May e John Deacon, Freddie sempre se lançou inteiro, de corpo e alma nas canções. Em Bohemian Rhapsody, você realmente acredita que ele matou um cara, enquanto que Somebody to Love é uma verdadeira autobiografia. A diversidade de seu talento como cantor fica evidente principalmente em News of the World (de '77), onde além de clássicos do Queen, cito duas canções menos conhecidas, Who Needs You (de Deacon) e Melancholy Blues (dele mesmo). Homossexual assumido, morreu de Aids é a antítese do roqueiro típico (junkie, comedor e empunhando uma guitarra), indo muito além do universo rok'n'roll com sua música.

[CONTINUA...]

Um comentário:

  1. muito bonito esse tema da voz.
    a voz é a parte viva da música e tudo que tem vida, tem junto uma história, um jeito e deixa uma marca.
    andréa

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