terça-feira, 29 de junho de 2010

LISTA DE ERRATAS

Eu sabia que seria apenas uma questão de tempo entre eu publicar uma maldita lista e me arrepender dos nomes esquecidos... Na minha lista de guitarristas por exemplo, é claro que isto aconteceu.

Carlos Santana eu sequer citei na lista de injustiçados o que torna o guitarrista americoxicano duplamente injustiçado. Ainda que eu ache o som dele um pouco repetitivo existe um grande número de ótimos momentos, e esses dias mesmo eu escutava duas música de uma colaboração sua com John Lee Hooker, e ficou simplesmente fantástico.

Ry Cooder também merecia uma lembrança, seu trabalho no slide é bastante delicado e inspirado. Quando citei o fiel escudeiro de Keith Richards, o stone mais novo Ronnie Wood, esqueci de mencionar seu trabalho brilhante com os Faces, Sweet Lady Mary tem um trabalho magnifico de lap steel e Stay with Me é rock'n'roll irrestível... Os dois guitarristas da segunda formação dos Black Crowes, Marc Ford, guitarrista solo, e o irmão fundador Rich Robinson são de chacoalhar o esqueleto, responsáveis pelo som na melhor fase da banda, assim como o novo guitarrista solo, Luther Dickinson, que tem uma abordagem um pouco mais country.

Marc Ford tem um trabalho lindo no disco de gospel que Ben Harper gravou com os Blind Boys of Alabama, o que já me lembra outro nome esquecido, Ben é um exímio guitarrista, principalmente no slide, e o público brasileiro o conhce muito bem pela lindo dueto com Vanessa da Mata em Boa Sorte/Good Luck.

Mas o que eu mais me arrependo de ter esquecido é o irlandês Rory Galagher, guitarrista quase obscuro que era capaz de tocar gaita e slide simultaneamente (e ainda cantava). O álbum póstumo Rory foge um pouco ao seu estilo original mas traz momentos acústicos belíssimos.

Alguns nomes do Jazz também poderiam merecer uma citação, Wes Montgomery, Charlie Christian e o cigano Django Reinhardt, mas não é a minha praia. Gosto muito de George Benson, que se rendeu ao pop com muito estilo e o "pianista" Stanely Jordan, que desenvolveu uma técnica única e cuja interpretação de Eleanor Rigby é de arrepiar...

Entre os brasileiros, gosto muito de Davi Moraes que deve ter tido umas aulinhas com o pai Moraes Moreira e o "tio" Pepeu; e John Ulhoa, que sabe como ninguém tocar com a linda e deliciosa voz da Fernanda Takai.

Espero não ter esquecido mais ninguém dessa vez...
[M]

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Será mago?

Imagino eu que no dia de hoje, ao redor do globo, um sem número de blogues deve estar falando sobre José Saramago... Destes, o que mais me deixa curioso é, como não poderia deixar de ser, a pena vadia. Até porque eu nem sou assíduo leitor de blogues e este é mesmo um dos meus favoritos. E lá vou a derivar do assunto principal...

Outro dia uma pessoa muito querida me pediu umas dicas de blues em português, que não fossem (é óbvio) os blues etílicos. Esquivei-me dessa com a desculpa de que blues e português não combinam, salvo momentos bastante pontuais (o Cartão Postal da Rita Lee é meu favorito...). Mas nada de esfarrapada tem essa desculpa, eu acho isso mesmo. A língua, ou, as línguas, têm um ritmo, uma cadência e uma sonoridade própria. Da mesma forma que samba em japonês costuma ser esquisito, blues em português também enrosca. Como também o rock em italiano ou em francês não me desce.

Mas há exceções. Mesmo que não entenda muito bem as palavras, o rap francês do McSolaar é melhor do que qualquer coisa que eu já tenha ouvido na sua língua original, bem como o blues-rock com sotaque flamenco de Jarabe de Palo me soa muito bem, como se estes artistas tivessem descoberto o viés comum entre sua língua falada e uma música que originalmente nasceu em outro ramo linguístico. O mesmo se pode dizer do uruguaio Jorge Drexler, que consegue encaixar perfeitamente o espanhol numa mistura de música (hispano-)latina, brasileira e pop-rock inglês.

Aqui mesmo nos trópicos ensolarados, terra do samba, da bossa-nova, forró, moda de viola e tantas outras diversidades, a musicalidade do rock também se encontrou com a nossa língua de maneira sublime em Raul e seus parceiros, Rita Lee, a turma dos anos 80 e, mais contemporaneamente, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Lenine, Vanessa da Mata, Céu... Bem, a lista parece ser extensa, ainda mais com pitadas de Gil, Caetano e do Clube da Esquina. Mesmo que a poesia rock-brasileira não seja lá a de um Chico Buarque, bem, acho que a proposta nem é essa mesmo, não é?

E onde entra o Saramago? Bem, sinto que eu mesmo me perdi um pouco... Descobri o Saramago lá na primeira metade dos anos 90, um livro (Jangada de Pedra) depois outro, depois outro... Foi overdose! A leitura de Saramago é cheia de ritmo (bem, toda leitura é, não é mesmo? Acabo de ser contrariado aqui do meu lado. Enfim...), mas ele consegue ser frenético no encadeamento de ideias e ao mesmo tempo suave na sua forma de manifestá-las. Muito difícil captar esse seu ritmo, mas muito fácil acompanhá-lo, Saramago é um músico que torna seu leitor bailarino inconsciente.

Ave José.

[M]

terça-feira, 8 de junho de 2010

LISTAS, LISTAS (...CONTINUAÇÃO)

6. O menestrel Steve Howe tocou guitarra na banda (e no gênero) que ficou conhecido pelos teclados. Mas não se engane: Steve Howe era o verdadeiro coração do Yes. De formação erudita, Steve sabia tocar violão folk, guitarra espanhola, bandolim enfim, tudo que tivesse cordas. Mas também não se acanhava de maneira nenhuma em meter a mão nas suas Gibson ou de tocar slide suavemente. Ingrediente fundamental na música do Yes, os licks de Heart of the Sunrise e Siberian Kathru não me deixam mentir.

7. Os voadores Jeff Beck e Derek Trucks. Jeff Beck começou com os Yardbirds tocando blues e rock e com a difícil missão de substituir E.C. E por ironia do destino, com ele a banda ficou ainda melhor, ele tinha uma abordagem mais agressiva e experimental. Isso já seria por si só digno de nota, mas não é tudo... Continuou na toada com Jeff Beck Group, que pode ser considerada uma das bandas precursoras do Heavy Metal. Mais um último disco (fantástico) de rock com os "Cactus" Bogart e Appice e Jeff deciciu migrar para a música instrumental numa estilo que chamaremos, na falta de nome melhor, fusion. Mais ou menos nesta época abandona de vez a palheta e passa a tocar só com os dedos, o que mudou totalmente sua abordagem do instrumento e sua musicalidade. Cause we've ended as lovers e Superstition de Stevie Wonder e a recente releitura de A day in the life dos Beatles são de tirar o fôlego. Derek Trucks é sobrinho de Butch Trucks, baterista original dos Allman Brothers Band, o que lhe confere um estranho e distante parentesco com Duanne Allman, o Sky Dog. Ainda mais quando constatado que Derek nasceu cerca de 10 anos depois de sua prematura morte. Derek toca de maneira magistral a guitarra slide, e a influência de Duanne é óbvia, mas, na minha opinião sua música é ainda melhor. Ele abusa de entretons o que confere ao som de sua banda uma certa sonoridade oriental, mesmo sem tablas, cítaras e outra peças do gênero. Songlines e Already Free, seus dois últimos álbuns são imprescindíveis (saiu um ao vivo recente agora mesmo em 2010).

8. Os artesãos Jack White e Tom Morello. Dois guitarristas pancada mesmo, Tom Morello é impressionantemente inventivo mas a música de Rage Against the Machine é difícil de escutar por mais de 10 minutos consecutivos, recomendo Audioslave, sua nova banda que é mais pop. Jack White é mais simples e faz uma mistura de punk rock com blues que dá certo. De Stijl é o melhor disco do White Stripes e sua guitarra pode ser apreciada com facilidade, enquanto que nos Raconteurs você vai escutar melhor a sua música como um todo. A trilha de James Bond-Quantum of Solace com Alicia Keys é imperdível...

9. O cavalheiro John Frusciante. O guitarrista dos Peppers é extremamente elegante e melódico e; ainda por cima, vintage. Além de alternar levadas pesadas com funks precisos é capaz de executar as mais belas baladas como Under the Bridge. Sua abordagem encaixa de maneira perfeita na música dos RHCP, no melhor exemplo de músico a serviço da música e não o oposto.

Robbie Robertson tocando uma... um... bem, deixa pra lá.

10. Os caipiras Robbie Robertson e Albert Lee. O primeiro, guitarrista da The Band e seu principal compositor. Como tal, traz outra percepção para o papel da guitarra na música: primeiro vem a composição, depois a guitarra vai colorindo o desenho que se esboça. Albert Lee já fez parte da banda de Eric Clapton (Another Ticket) mas é tocando guitarra country que ele pode ser melhor apreciado. Recomendo seu trabalho junto com os Bill Wyman's Rhythm Kings.

11. Os pioneiros Robert Johnson, Chuck Berry, Muddy Waters e John Lee Hooker. Mais pelo pioneirismo do que pelo som, eu não sou muito chegando naquelas gravações chiando a agulha com vocal de banheiro apertado, mas Robert Johnson tem um baú de composições atemporais (em especial a interpretação dos Stones para Love in Vain), Muddy Waters eletrificou o blues e também era um compositor magnífico (além de uma voz inesquecível), Chuck Berry inventou a guitarra rock e John Lee Hooker era o rei do Boogie e ninguém mais toca (ou tocou como ele).

12. Os sanchos-pança Mick Taylor e Ronnie Wood. Dom Keith Richards de la Mancha pouco seria sem seus fiéis escudeiros às avessas... Mick Taylor era discreto e sem nenhuma pressa, a conferir seus solo de slide na versão ao vivo de Love in Vain: magnífica. Com a troca deste por Ron Wood (que já tinha um trabalho fantástico como guitarrista dos Faces, escute Sweet Lady Mary por exemplo) a fronteira entre os papéis de guitarrista rítmico e solista nos Stones ficou mais difusa... Confira o álbum Some Girls, especialmente a faixa-título.

13. Os injustiçados (desta lista): o mestre do slide Duanne Allman, os heróis do metal Toni Iommi, Rtchie Blackmore e Steve Morse, o tornado texano Stevie Ray Vaughan, o bluesman com suingue B.B. King, o super-herói da velocidade Eddie Van Halen e o saudosista Brian Setzer talvez merecessem mais atenção, mas o post já vai por demais se estendendo e eu já estou de saco cheio de escrever...

14. Os Xaropes Steve Vai e Joe Satriani. Nem vou comentar. Tecnicamente os melhores da lista, nota 1.000. Musicalmente, desprezíveis.

15. Os brasileiros: Lanny Gordin, Sérgio Dias Baptista, Luis Sérgio Carlini, Pepeu Gomes, Roberto de Carvalho, Edgard Scandurra e Lucio Maia.
Lanny era o guitarrista da tropicália. Desta forma seu som ia muito além do rock e pode ser conferido nos melhores discos da época, em especial no Expresso 2222 do Gil. Sérgio dispensa maiores apresentações, guitarrista dos Mutantes e um dos motores criativos daquela que foi a melhor de todas aqui na terrinha. Dune Buggy e Cantor de Mambo são meus momentos favoritos. Pepeu guitarrista dos Novos Baianos, onde ficava escondido pode ser melhor apreciado quando a banda terminou e ele se juntou a Baby em carreira "solo a dois". Deu canja em muitos álbuns por aí, incluindo A Cor do Som, Moraes Moreira... Carlini e Roberto estão diretamente ligados à careira da rainha do rock, Rita Lee. O primeiro ajudou a mostra que ela poderia se virar, e muito bem, sem os Mutantes. Os dois primeiros álbuns dela com o Tuti-Frutti (Atrás do Porto tem uma Cidade e Fruto Proibido) estão entre o que há de melhor na discografia de rock nacional. O solo repetido de Ovelha Negra já é parte do cancioneiro nacional, exemplo da beleza das coisas simples. Roberto o marido, companheiro e multiinstrumentista que encarou o desafio de transformá-la em sucesso pop sem perder um pingo de qualidade musical. Rita Lee de '79, o homônimo de '80 (também chamado de Lança-perfume) e o disco Saúde (de '81) contém o melhor de sua produção, em especial em Bem-me-quer (de '80). Edgard, guitarrista do Ira! é o melhor guitarrista de sua geração, disparado. Pena que nem suas canções nem sua banda fosse tão boa quanto Ultraje, Titãs, Paralamas ou Barão. Dono de uma técnica única (que só conheço no violonista Canhoto da Paraíba), Edgard que é canhoto, toca numa guitarra de destro ao contrário, o que deixa as cordas mais graves em baixo e as mais agudas em cima. Não consigo nem imaginar como ele monta os acordes... Lúcio Maia (geralmente) é o contraponto melódico da Nação Zumbi, o que faz com maestria. Sem jamais se sobrepor às canções (geniais principalmente na época de Chico Science) Lúcio vai preenchendo de maneira elegante (ou agressiva) conforme a conveniência os buracos abertos pelo estraçalhar dos tambores da Nação.