quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Que John Malkovich o quê!

Eu queria mesmo era ser Jack Johnson. Olha o escritório do cara!?:


É aquela velha história de sonho de criança. Queria ser bombeiro. E nas horas vagas jogador de futebol. Sobrando um tempinho ainda, ator de novelas.

Jack Johnson abandonou o surfe (profissional) cedo, depois de um acidente. Então decidiu ir estudar cinema na Califórnia e se dedicar à música (poderia ter decidido ir estudar direito, e se dedicar à culinária, por exemplo....). Hoje é trilha sonora obrigatória nas melhores aulas de pilates, quiosques de açaí, cafés descolados e coisas do gênero. Pop do universo cult, ou o cult do mundo pop, a verdade é que o havaiano tem (pelo menos) um disco muito legal (Brushfire Fairytales), aquela músiquinha bacana da trilha sonora do desenho do macaquinho George, o curioso e agora essa música maneiríssima que está tocando nas rádios (You and your heart). Só gente bonita, bacana e ensolarada curte Jack Johnson. Pergunte pra qualquer menina que esteja se banhando de sol na Guarda do Embaú se ela prefere Jack Johnson ou Motorhead...


Jack Johnson pode ser trilha de gente descolada e sorridente, que assiste festival de cinema iraniano, não come carne vermelha, fuma só do natural e evita dirigir alcolizado. Pro universo rock'n'roll pode ser considerado suave em excesso (ainda que excesso de suavidade soe contraditório, por princípio), delicado demais... Sempre de chinelo, camiseta e bermuda o cara é dono de uma voz bem encaixada e de um ritmo fluido, de fato o cara tem ótimas composições. A música dele é boa, desencanada... relax total.


Havaiano, surfista e pop star... Eu imagino a dieta do sujeito. Só pode estar comendo muito bem.

[M]

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pilotando a máquina

Bem, já foi falado sobre a guitarra, a voz e a cozinha... Falta agora o complemento harmônico (não-obrigatório) do rock em barailaique. Na verdade, a presença do teclado na história do rock é tão antiga quanto o próprio...

No tempo dos pioneiros, Little Richard e Jerry Lee Lewis demoliam (em) seus pianos. Aliás, eles tinham postura muito mais rock'n'roll que Elvis ou Chuck Berry. Mas, convenhamos, piano é um trambolho enorme, e provavelmente tem um na casa da sua avó, de uma tia distante ou de algum estabalecimento de mesma estirpe.

Anos 50, huuuum, veja bem: a guitarra elétrica, novidade total, nego toca em pé, dançando, rebolando e chacoalhando. Piano é aquilo (voltar ao parágrafo anterior...), ainda que os supracitados pianistas dançassem, rebolassem e chacoalhassem... Rock'n'roll é (também) imagem. Desde o princípio. E assim o piano foi relegado a segundo (terceiro, quarto...) plano.

Veja os Stones por exemplo. A auto-intitulada maior banda de rock de todos os tempos. Eram 6 os Stones até a data de assinatura do contrato com a DECCA, quando foram convencidos de que Ian Stu Stewart era "muito velho" (e muito pianista!) para ser membro oficial da banda. Foi elegantemente rebaixado a músico de apoio. Mas sempre esteve lá. Ele, ou outro tecladista, Nicky Hopkins, Billy Preston, Chuck Leavell, entre tantos...

Mas os teclados sempre tiveram por ali, rondando o rock'n'roll e chegaram mesmo a ensaiar um golpe de retomada de poder com o prog-rock, mas o contra-golpe veio rápido com o punk! rock...

Os Beatles jamais desprezaram a presença de um bom piano em suas músicas (pós iê-iê-iê), fosse pelas mãos de Paul ou de George Martin, tanto quanto pela presença do inesquecível Billy Preston, que tocou como convidado em algumas faixas, notadamente naquelas do teto da Apple. O mesmo Billy que tocou em diversos discos dos Stones, com os quais tem faixas fantásticas como I Got the Blues e Melody.

Ah é? E que tal Ray Charles, que tinha verdadeiros riffs de teclado como em What'd I Say. Ou Stevie Wonder, com toda aquela música maravilhosa dedicada ao teclado... Bem, na música negra americana isso vem da igreja, do gospel direto para o que viria a ser a soul music.

A verdade é que os teclados oferecem um contraponto melódico à guitarra, além de uma outra possibilidade sonora que as bandas dos anos 60 (principalmente com a psicodelia) adoravam. Os tecladistas Alan Price e Ray Manzarek por exemplo, eram figuras centrais para a música dos Animals e the Doors. Al Kooper era figura carimbada e muito querido pelos Stones, Dylan (é dele aquele orguinho crássico de Like a Rolling Stone) e Hendrix. Era músico que ia muito além do rock, e fundou uma banda fantástica, os Blood Sweat and Tears. O mesmo se pode dizer do multi-instrumentista (e principalmente tecladista) Steve Winwood, do Traffic. Quando o Traffic ficou sem o guitarrista Dave Mason, ele nem deu bola e seguiu com um improvável power trio sopro/bateria/teclado com eventuais toques de guitarra nos dois melhores discos da banda. Fez parte com Clapton (que queria incorporá-lo ao Cream, algo que os outros dois não acharam boa idéia) do lendário Blind Faith e tocou com Hendrix em Electric Ladyland. Menos conhecido, Ian McLagan começou com o Small Faces e seguiu com Wood e Stewart nos Faces. Seu tecladinho era essencial...

Órgao Hammond B-3 e amplificador Leslie


Mesmo as bandas que faziam um rock mais agressivo, o heavy metal do Led Zeppelin por exemplo contava com os teclados de John Paul Jones para dar uma variada de vez em quando. Mas emblemático mesmo é o som do Deep Purple. Arrisco-me a dizer que, sem o tecladista Jon Lord, aquilo não teria ido além do primeiro compacto (por melhores que fossem os outros músicos). Ele é meu músico favorito nesta banda, é o toque de originalidade que tornou o som do Purple uma coisa única, pilotando seu órgão Hammond plugado num Leslie amp (parece que ele usava um pedal de distorção naquele bicho!). Até mesmo o Black Sabbath quando ficou sem saída criativa chamou Rick Wakeman, tecladista do Yes, para tocar em Sabbath Bloddy Sabbath. Yes que dependendo do tecladista mudava a sonoridade. Com Tony Kaye, da primeira geração, o som era mais rock (ele ainda voltaria nos anos 80 à banda, que voltou ao pop rock). Com Wakeman, era mais clássico e com Patrick Moraz foi mais jazz... O The Who também incorporou, aos poucos, de maneira muito inteligente e criativa som malucos de teclados e sintetizadores em sua sonoridade. Até mesmo o Rush incluiu a partir de certa etapa o som da tecladeira... E o saudoso Rick Wright (the Great Gig in the Sky....), falecido tecladista de uma das banas mais populares de todos os tempos, o Pink Floyd? Quantos dos momentos sublimes desta banda devemos a ele?

Claro que o rock progressivo foi um abuso, a era do exagero. Mas ficou muita coisa dali. E uma delas é o teclado que veio pra ficar e passando pela new wave dos anos 80 (Duran Duran com aquele som absolutamente sintético), desembocou no techno e música eletrônica dos anos 90 e 00. Mas ainda teve muita gente apoveitando o sonzinho maneiro do teclado sem tornar isso uma obsessão. O Police dos dois últimos discos (os mais legais deles!) incorporou piano e teclado. David Bowie sempre usou de maneira brilhante. Até o U2!? E mesmo as boas bandas de reggae não dispensam esse sonzinho maneiro...

Moog: os primórdios do sintetizador.

Lembro também o som maneiro do R.E.M., e até mesmo o Pearl Jam que não dispensa os teclados do músico de apoio, bem como o João Fera dos Paralamas... Os Black Crowes com sua sonoridade retrô, é claro, não poderiam deixar de ter um tecladista de primeiríssima (Eddie Harsch, depois substituído). E que tal Wilco, que tem não só um, mas dois tecladistas?!

E para desespero dos meus leitores itabunenses: Queen e seus "pianinhos de teatro"... Aqui o som era de piano mesmo. Essencial. Senão o Queen seria só mais uma banda de Heavy Metal... Bohemian Rhapsody, Somebody to Love são músicas de piano. Engraçado é que até o disco The Game de 1980, a banda se orgulhava de não usar sintetizador (and nobody played synthesizer, vinha escrito sempre nos créditos).

É claro que, para a MPB essa "dificuldade" não existe. A começar pelo fato de que o maestro soberano era da área e fazia subir frequetemente o piano pra mangueira. Mas, mesmo o nosso pop sempre foi aberto ao teclado. Começando com os teclados de Arnaldo Dias Baptista nos Mutantes, ele seguiu com Rita Lee no Tutti-Frutti até pra sempre no seu feliz casamento (musical) com Roberto de Carvalho. Nas bandas dos oitenta, Paralamas começou sem, mas incorporou já no terceiro (e essencial) álbum, Selvagem. Titãs e Barão, nunca dispensaram. Cássia Eller tinha tecladista na banda, bem como os Infernais de Nando Reis e as bandas da artistas como Lenine e Zeca Baleiro. No manguebit (prefiro a grafia original), Nação Zumbi não tinha mas Bactéria aciona os botõeszinhos no Mundo Livre S.A.


Mellotron: sonho de consumo. Cada tecla aciona uma nota de um instrumento pré-gravado em fita magnética. Foi assim que John Paul Jones tocou flauta em Stairway to Heaven...

Pato Fu também incorporou e o disco novo da Céu é um brinde ao teclado retrô, um desfile de sonoridades antiquadas misturadas com maestria. Provável influência da banda do guitarrista Fernando Catatau que produziu (também) o último do Arnaldo (que sempre teve teclado em sua banda) com aqueles tecladinhos Jovem Guarda...

Enfim, as coisas se reciclam. E ás vezes eu penso: graças a deus!

[M]