sexta-feira, 21 de maio de 2010

It Might Get Loud (de um convidado especial...)

Caros leitores deste blogue... Sinto muito pela longa ausência. Eu mesmo gostaria de estar mais postante, mas estou por demais atarefado com obrigações diárias e mundanas... Vida triste essa da gente. Primeiro o que a gente TEM QUE FAZER e só depois, se sobrar tempo, o que a gente QUER FAZER...

Idéias pintam, é claro. No banho, de noite na cama, no carro... Falta a bunda. A bunda na cadeira e os dedos ali, tlec, tlec, tlec...

Mas, enquanto seu lobo não vem, vou postar um convidado muito especial, tirado de http://penavadia.blogspot.com/. Vale a pena ler este blogue, o espectro dele é bem mais amplo que o meu, e seu último post cabe muito bem aqui. Grato ao PQ que me emprestou o texto. Chega de nhém, nhém nhém.: vamos a ele.

" 'It might get loud' é o que diz Jimmy Page – com um sorriso no rosto e um plug na mão – a certa altura do magnífico documentário de Davis Guggenheim, que se desenrola a partir do encontro de Page, The Edge e Jack White.

O encontro é supimpa, não apenas pela alta música que dele resulta, mas pelo deslavado elogio da guitarra elétrica. O documentário é uma apologia da guitarra: seus timbres, suas texturas, suas formas e, é claro, os truques em que são mestres os três mestres. Mas a apologia se transforma em verdadeiro apólogo, quando são as três guitarras que dialogam, dizendo coisas que não se pode transformar em palavras.

Linda a cena de Jack White construindo a mais precária (e portanto mais bela) das guitarras, com pouco mais que uma tosca peça de madeira, uma corda, amplificador, eletricidade e… uma garrafa de coca-cola como ponte. Difícil não ver aí uma referência à arte pop, e à possibilidade de que, das entranhas do consumo, venha a nascer um objeto único, irrepetível e irredutível ao desejo massificado. A guitarra, como a música, participa do universo do sagrado.

O documentário é também uma pequena e deliciosa aula de história: o experimentalismo com as potencialidades do rock inglês no cenário da liberação dos 60 e 70 (Yardbirds e Led Zeppelin), aquele minimalismo de acordes em que se condensa o grito pacifista a partir da Irlanda dos anos 80 (U2), e esse tal de rock’n’roll que reaparece com tudo na América, nesta turbulenta última década (The White Stripes, The Raconteurs).

É curioso que o mais novinho do bando seja o americano, e que seja ele também o mais disponível dos 3, ou pelo menos aquele que mais parece estar ainda experimentando poeticamente. Sigo pensando na maneira como White fala sobre o que significa tocar os objetos que produzem os sons. A textura, para ele, não é apenas a textura misteriosa da música. A textura da música passa antes pela descoberta da textura das coisas, e das vibrações que elas escondem. É pelas coisas que nos comunicamos com o além, com o sagrado.

Por último, o percurso entre a Inglaterra, a Irlanda e os Estados Unidos é uma poderosa viagem musical, como se auscultássemos um som virtual: aquilo que pode acontecer sempre que se dá esse raro encontro transatlântico, isto é, sempre que o rock das ilhas toma o navio de volta, atravessa o mar do Norte e vem reencontrar as suas velhas raízes, tornando-se, lá no fundo, o blues que ele nunca deixou de ser. Que o blues reapareça no fundo inescrutável da guitarra de um jovem branquelo de Detroit, de origem humilde e que talvez tenha aprendido a usar as mãos artisticamente estofando móveis antigos, é um desses mistérios fabulosos, que parecem acontecer de tempos em tempos. Com eles, renovamos nossa fé. And it might get loud."

http://penavadia.blogspot.com/

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