quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Novos Tempos?

Dia desses tava ouvindo o ótimo disco (novo) de Ian Brown. Na verdade parece ser uma coletânea reunindo o melhor do trabalho solo do vocalista dos Stone Roses. O álbum chama The Greatest e não traz muita informação. Vai na linha minimista, encartes com fotos bacanas, mas informação zero. Afinal o que vale é a música, não? Bem, esta é afinal a geração mp3, bem diferente da geração bolachão...


O encarte super informativo de the Greatest. Tudo bem, é bonito...


Bem, para dizer que os Stone Roses foram um descoberta bem tardia minha. Formada no final dos 80/início dos 90 em Manchester pelo vocalista Ian Brown, dono de uma voz meio esfaqueada, timbre cortante, canta meio falado e as palavras saem uma por uma sem embolar (o que me leva a crer que o cara deve odiar Mick Jagger), e o guitarrista John Squire (que imagino não ter parentesco algum com o velho Chris, baixista do Yes...), excelente ritmista e de muito bom gosto na escolha de timbres e efeitos. Nesta época estava eu preocupado demais com o "lixo noventista" e me recusava a ouvir coisas novas, não queria macular o puro som do rock'n'roll dos 60 que entrou pelos 70 arrebentando, e pelos 80 já perdendo totalmente o gás.


E o tempo é o senhor da razão. Pra não deixar de ser teimoso, eu passei boa parte dos anos 00 descobrindo os tesouros escondidos nos 90... É muito engraçado porque meus alunos na faixa de 18/20 anos desfilam por aí, orgulhosos com suas camisetas do... Led Zeppelin???? Uma pesquisa rápida na sala de aula mostrou ser essa a banda favorita, ao lado de outras novidades como AC/DC e, pasmem, os Beatles. Nada contra, acho ótimo que tenham este bom gosto, mas quando eu citei os White Stripes ou Lady Gaga, ninguém levantou o braço.


Engraçado é que, mesmo das antigas, as bandas inglesas continuam fazendo a cabeça das novas gerações. E como o rock britânico e o americano são diferentes! No começo, os ingleses importaram o blues e o rock negro americano, reciclaram, e devolveram revigorado e, é claro, principalmente: branco. Beatles, Stones, Who, Animals e outros pioneiros faziam praticamente rock americano até meados dos 60 quando o jeito inglês parece que veio à tona. LSD, roupas coloridas, a pílula... talvez a assimilação destes no velho continente tenho sido mais ligeira e malandra que na América, ainda preocupada com Guerra Fria e outros fantasmas. O psicodelismo é basicamente rock inglês. Não há como negar, e os frutos estão aí até hoje. O rock americano parece mais preso às suas raízes, a um certo purismo (ainda que alguns artistas ingleses sejam entusiastas da idéia, como Clapton, por exemplo). O rock inglês é mais solto, livre e descompromissado. Na ilha nasceram, além do psicodelismo, o heavy metal, o prog-rock, o punk, a new wave (ok, o grunge é, essencialmente americano. Assim como o rap). Os melhores artistas americanos tocam uma música extremamente tradicional (e boa). Incluo aí, os canadenses Neil Young e a The Band. Dylan e outros folks semelhantes (Crosby e Stills). A banda dos irmãso Allman e até mesmo o pessoal da costa oeste, Grateful Dead, Jefferson Airplane e mesmo Credence Clearwater Revival. Enquanto o rock americano vem de trator aditivado com Bourbon, o inglês tem aquele ar de neblina, chuva e bolor (e aqui parece residir a diferença fundamental)

A ensolarada pose dos americanos Crosby, Stills e Nash (tudo bem, Nash é inglês),
enquanto na ilha os Stones vão passando aquele frio...



Talvez os mais libertários entre os artistas americanos tenham sido Hendrix, The Doors, Lou Reed e o pessoal de NYC, Talking Heads e a galera do Grunge (bem, o que dizer então de Frank Zappa?). Libertários em relação a estas tradições, a estas raízes. Já na ilha, o troço é diferente. Eles não precisam respeitar estas raízes, pois não são deles. O som da ilha me parece mais descompromissado e mais disposto a incorporação de novidades. Bob Marley e os Wailers ali no caribe, tão pertinho da América, voaram para a ilha antes de estourar comercial e internacionalmente. Até mesmo Hendrix teve que sair dos EUA e montar uma banda inglesa para depois reconsquitar seu próprio país. Enfim...


O mais engraçado é que (parte d')essa geração do MP3 tá de olho (e ouvidos) lá nos 60's e 70's... Um outro aluno veio todo orgulhoso me contar que faltaria a uma aula na sexta porque estava indo ao show do Rush! E você vai no show certo de encontrar uma bando de carecas ou grisalhos barrigudos e quando percebe está no meio da maior moçada... Acho que isso dá um certo estilo pra gente sabe? algo como, olha eu não tô ouvindo o que tá tocando por aí, eu tô é com a velha e boa guarda... Naqueles (nossos) tempos era mais complicado, rádio quase não tocava, tinha que ser disco ou fita gravada de alguém. Hoje, na era do MP3 o aceso é total a tudo, é de ficar tonto.


Só espero que daqui uns anos meus alunos comecem a ouvir os
Stones Roses, Primal Scream, Kula Shaker, as grandes bandas inglesas dos 90. Sem esquecer coisas mais eletrônicas como Morcheeba, Masive Attack e Portishead. Quanto aos americanos, sejam eles os super-retrô Black Crowes (minha banda americana favorita) ou o supreendente Mark Sandman e seu Morphine, espero que eles também descubram e desfrutem. Nunca é tarde demais...

[M]

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