quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Clube do Bolinha

Muita gente estranha meu gosto por AC/DC, mas ninguém supera essa estranheza do que minha própria mulher, que simplesmente abomina o som da banda, ou a banda em si, porque chega uma hora em que essas coisas se confundem.

Pessoalmente sempre me pareceu que AC/DC é música de homem, que mulher não gosta. Mas eu me lembro que a irmãzinha de uma ex-namorada minha quando começou a crescer e virar adolescente, a primeira coisa que começou a curtir de rock'n'roll foi o som da banda australiana. Não sei como se deu o processo, já não participava mais da família, ouvi isso como uma notícia distante, mas acho que é uma coisa de geração. Por mais que eles já estejam na estrada há mais de 30 anos, parece que o som deles foi melhor assimilado por uma geração que veio depois da nossa.

Lá em casa, a banda foi quase banida. O mais correto seria dizer... exilada: eu tenho um quartinho atrás da churrasqueira que serve de exílio pra banda dos irmãos Young e seus cupinchas. Minha digníssima esposa sempre que tira um cd do AC/DC do aparelho deixa solto, jogado sobre a estante. "Isso é tão ruim que não deve ter nem caixa!", pensa.

O primeiro contato do (grande) público brasileiro com essa banda foi no Rock in Rio I, isto é: janeiro de 1985. Na época eu me achava grande coisa, só gostava de Queen e estava descobrindo Yes e o rock progressivo, o que era "muito superior" ao que costumava se chamar, na época, de Heavy Metal. Hoje, qualquer metaleiro que se preze vai rir na sua cara se você chamar AC/DC de banda de Heavy Metal. Desde então, ou até antes disso, bem antes, o som da banda não mudou muito. "AC/DC? Ouviu um disco, ouviu todos" costuma dizer o Dão. O fato é que eles resolveram o dilema de estar na estrada por décadas da maneira mais simples: fazemos o que gostamos e sabemos fazer melhor. Não importa se soa repetição do memso igual. O disco Stiff Upper Lip traz na capa a figura emblemática: Angus Young eternizado em bronze, trajado em uniforme colegial como ele tem aparecido desde o primeiro momento.


Lá pelo idos de 1974, eles foram malandros. Aproveitaram a onda demoníaca lançada pelo Black Sabbath e começaram a fazer poses com chifrinhos, e a moda pegou e eles abusaram lançando discos com nomes de Highway to Hell, Hell's Bells, essas coisas. Fique bem claro que, no caso do AC/DC essas coisas soam mais como pastiche do que como coisa séria. Eles são, na verdade, uma banda de Rock'n'roll, ou Hard Rock no máximo, que era o nome que se dava no anos setenta para essas bandas que abusavam da distorção.


Distorção que é um truque ("sujo") para ocupar volume. A distorção parece ter surgido com os Kinks em 1964 na música "You Really Got Me". O truque é saturar a capacidade de ampliação do som capatado eletricamente da guitarra no amplificador dando aquela impressão de saturação (aumente bastante o volume do som do carro, a sensação é a de que as caixas estão preste a estourar). Isso porque o som puro, acústico, tem o limite de volume natural, devido ao próprio toque do intrumento. A guitarra elétrica não. Ela não tem caixa de ressonância. A corda vibra, a vibração é captada pelos capatadores e lá, no amplificador, o som é amplificado. E aí é que mora o truque: girar o botãozinho além da conta. Tanto que os amplificadores começaram a vir equipados com dois botões independentes, um só pro volume, outro pra saturação. É possível ouvir um som saturado, porém baixinho.

Voltando ao AC/DC, talvez seja essa a confusão: numa época em que a saturação era o carimbo de heavy metal, ninguém se deu conta (será?) que eles faziam rock'n'roll. Poucos acordes (geralmente no tom maior), letras simples, muita cachaça, e muito ritmo. A marca registrada da banda é a seção rítmica. Em vez do som tipo metralhadora do Iron Maiden (que é o protótipo do Heavy Metal nos anos 80), o som do AC/DC é quase um Chuck Berry distorcido. Tá bem, vá lá, um Rolling Stones (mais) sujo e (mais) distorcido: Somente rock'n'roll. Barailaique...

Ps: essas duas últimas foto mostram os irmão Young (Malcolm, o cabeludo na foto de cima) e Angus (o calvo, na debaixo empunhando uma Gibson semi-acústica vermelha, stripped de seu uniforme acdciano) dando uma canja em show dos Stones...

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